Longo e necessário caminho
Senão quando perfeito – Orson Peter Carrara
Em todo texto, muitas vezes na linha de um parágrafo, sempre
há detalhes – e que sempre passa desapercebido numa leitura rápida – que trazem
profundo significado, seja no todo ou no contexto específico de uma linha de
raciocínio. Vez por outra, numa leitura mais atenta, eles saltam aos olhos. O
hábito de estudar e pesquisar permite descobrir esses tesouros ocultos, embora
ali expostos e escritos, mas não percebidos.
Os textos de Kardec são assim. Escritos há quase dois
séculos, são fonte riquíssima de detalhes que gradativamente vamos descobrindo,
seja pelo próprio amadurecimento do leitor, seja pela evolução das ideias e
mesmo pelas modificações sociais que vão permitindo identificar ângulos antes
não percebidos, embora quando descobertos vemos como são claros e óbvios.
Um deles – entre outros, claro – está no item 10 do capítulo
8 – Bem-aventurados aqueles que têm puro o coração, em O Evangelho
Segundo o Espiritismo.
A afirmação está inserida no subtítulo Verdadeira pureza.
Mãos não lavadas. A afirmação está no 3º. parágrafo do item acima referido:
“(...) o homem não chega a Deus senão quando está perfeito (...)”. O texto, no
seu todo, está repleto de observações muito valiosas, antes e depois da afirmação
em destaque. Mas, avalie-se calmamente o alcance e profundidade da afirmação.
Embora seja algo óbvio e claro o que ali está afirmado,
notemos as perspectivas que abre para maior entendimento dos fundamentos do
Espiritismo, envolvendo a evolução – onde estão inseridos o aprimoramento
moral, as experiências da pluralidade das existências e outros – e mesmo para perfeita
compreensão das Leis de Deus, onde não há qualquer tipo de privilégio ou
preferências. O esforço é individual, apesar das experiências coletivas, e referido
estado de perfeição – embora relativo, já que ninguém alcança o Criador –
deverá ser conquista do Espírito por meio de laborioso aprendizado.
E este “está perfeito” traduz-se por total ausência de
apegos ou malícias, libertação do egoísmo e orgulho, tolas vaidades, pretensões
e outras posturas incompatíveis com a perfeição que a evolução produz no
espírito, embora o ritmo dela dependa do próprio protagonista, de seus esforços
ou descuidos com a questão.
Percebe-se, com clareza, que o interesse é nosso mesmo. Somos
nós mesmos que devemos nos interessar e progredir, para chegar a Deus. No texto
onde a afirmação está inserida, todavia, o Codificador refere-se aos objetivos
da religião, que são exatamente conduzir a criatura humana na direção dessa
compreensão. Sugiro ao leitor consultar o referido item 10. Afinal, não estamos
solitários ou abandonados no evoluir. Vários outros meios e fatores nos ajudam
nessa direção, mas a perfeição – repito, ainda que relativa – é fruto do
esforço continuado de cada um, apesar da convivência coletiva, que muito influi
em tudo isso.
Nada de ilusões, portanto. A sabedoria do Criador assim
estabeleceu. Prossigamos trabalhando por esse ideal nesse gigantesco processo
de aprendizado.

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